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Devemos diferenciar o autor, da sua própria obra?


Tenho pensado muito nesta questão. Devemos diferenciar a pessoa que escreveu, da sua própria obra? Se sabemos que o autor tem uma reputação lastimável e ideologias absolutamente questionáveis ou que inspiram repúdio, deveremos banir o conjunto da sua obra ou boicotar a sua compra ou divulgação?


Temos inúmeros autores ao longo da história que exprimiram posições que hoje iriam ferir de morte aquilo que consideramos o politicamente correcto. Joseph Conrad muitas vezes foi acusado de racismo, bem como outros autores receberam acusações de anti-semitismo. Outros decidiram apoiar regimes destrutivos como o escritor norueguês Knut Hamsun e a sua relação controversa com os nazis que levou a que fosse confinado a uma instituição psiquiátrica após a guerra.


Exemplos não faltam. Cada autor é um produto do seu tempo, da cultura em que cresceu e absorveu influências, da sociedade que o acolheu. Hugo Pratt conta que cresceu no seio de uma família fascista italiana, numa altura em que a sociedade italiana prosperava sob a alçada de Mussolini e era perfeitamente natural envergar a camisa negra do fascismo. A loucura da Segunda Guerra Mundial mostrou-lhes tarde demais como estavam errados.


Hoje em dia, é muito difícil para um autor disfarçar as suas verdadeiras opiniões em muitos assuntos. Alguns tentam, outros nem se dão ao trabalho.


O que eu tenho feito? Sinceramente, eu não parei de ler... Sinto que não estou compactuando com eles para cometerem abusos por ler seus livros. Mas me compadeço das pessoas que foram vítimas deles. Eu tenho a consciência do que elas falam e do que eles faziam. Só que isso não me faz um especialista no assunto. Não posso te obrigar a parar de ler Asimov, mas espero que todo mundo entenda do que ele é acusado (abuso e assédio sexual).


Os seres humanos são passíveis de erros e de fazer coisas brutais e criminosas. Estes não são os únicos casos de autores cuja obra é genial, mas que na vida privada são irreconhecíveis. Alguns chegaram até mesmo a apoiar o regime nazista. Não podemos negar também a importância que essa produção cultural tem. Acredito que, no final, a consciência de cada um deva pesar entre o que acha certo e o errado. O que não podemos fazer é enterrar a cabeça na areia, achando que nossos autores favoritos são isentos de comportamentos escrotos e criminosos.


Como você lida com isso?

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